A neurociência da liderança em meio aos conflitos de gerações

Nosso cérebro é um vasto campo onde ocorrem desde pensamentos mais simples até os mais complexos. É a partir do treino realizado dentro desse campo que se molda a postura de um indivíduo dentro de uma empresa ou instituição. Especialmente no caso de pessoas em posição de Liderança, o cérebro é obrigado a trabalhar ainda mais rápido, fazendo com que o aprendizado obtido ao longo do tempo seja posto em xeque, revelando-se em vantagens ou mesmo em desvantagens para sua atuação dentro do cargo exercido.

O estudo da neurociência aplicado à gestão de pessoas tem trazido cada vez mais descobertas sobre esse “jeito humano de agir” de nosso cérebro. Já foi constatado, por exemplo, que a capacidade de confiança e cooperação está relacionada com o hormônio cerebral da ocitocina e que a criatividade e a capacidade de colaboração não são atributos permanentes, prosperando geralmente de acordo com os fatores externos. Vale ressaltar que existe hoje uma crise de engajamento em relação ao trabalho, com aproximadamente 70% dos colaboradores do mundo se sentindo desmotivados – segundo os dados da Mega OHI Brasil 2018, pesquisa realizada pela McKinsey.

E parte dessa desmotivação vem justamente do embate entre diferentes gerações, um tema que ficou em bastante evidência atualmente com os debates criados pela Geração Z (de pessoas nascidas a partir de 1995), que criticaram os comportamentos da Geração Y, conhecida também como Millenials (dos que nasceram entre 1980 e 1994), taxando-os de “vergonhosos” e colocando-os ao lado da Geração X (1965-1979) e dos Baby Boomers (1945-1964), que já eram vistos pela geração dos Millenials como “ultrapassados”. Embora toda esta discussão tenha virado uma grande brincadeira na Internet e evidencie apenas as mudanças de gostos cotidianos, essa questão acarreta, sim, em conflitos dentro do meio corporativo.

De acordo com uma pesquisa realizada pela ASTD Workforce Development, um em cada três funcionários perde pelo menos cinco horas de trabalho por semana por conta de conflitos geracionais. Além disso, mais da metade revelou que as diferenças intelectuais entre funcionários de gerações diferentes consomem entre até cinco horas por semana dentro da empresa.

No artigo “Contribuições da neurociência para a concepção de currículo”, escrito pela doutora em ciências da educação Elvira Souza Lima, a neurociência revelou que ainda em idade escolar ocorre a formação de valores a partir de vivências intergeracionais, que forjam comportamentos que serão levados adiante dentro da trajetória de cada indivíduo. Assim, a formação de valores como responsabilidade, esforço, trabalho em equipe, tolerância, respeito mútuo e confiança serão incorporados desde essa época e impactarão diretamente em questões como disciplina e atitude, altamente consideradas dentro do meio corporativo.

Como a Liderança pode atuar?

Não tem para onde correr: é essencial buscar bons relacionamentos no ambiente de trabalho para que a produtividade alcance patamares cada vez mais altos. Um líder que constrói vínculos de confiança é capaz de criar mais – e melhor –, tornando esta uma questão fundamental para o sucesso da empresa. Dessa forma, ao invés de evitar o conflito geracional colocando funcionários de diferentes idades no mesmo setor, uma ideia melhor seria apostar na diversidade e permitir que sejam revelados à equipe os motivos por essa união de pessoas tão diferentes. Colocar as diferenças em pauta e estimular a reflexão sobre esse tema pode ser uma excelente saída para essas discussões.

Para que isso aconteça, é necessário que o líder reconheça as diferenças individuais de cada colaborador e compreender que é justamente nessa diferença que está a riqueza da diversidade – evitando assim um viés cognitivo chamado groupthink, que ocorre quando todos pensam de forma muito similar e impactando negativamente o nível de inovação na organização. Ao invés de tentar fazer todos pensarem iguais, essencial é colocar ideias diferentes lado a lado de forma complementares. Mas, para isso, é necessário que o líder racionalize toda a situação e que aposte em projetos voltados à diferença geracional. Daí revela-se a importância de um treinamento que desenvolva a Inteligência Emocional dos profissionais, gerando neles não somente a empatia necessária para lidar com as diferenças dentro da equipe bem como uma visão que possa agregar tanto para si como para a equipe e para a empresa. Todos saem ganhando.